Matar ou Morrer

Curitiba é cidade madrasta. Quem me afirmou isto foi o célebre cineasta Sylvio Back numa entrevista memorável no final dos anos oitenta, época em que dava meus primeiros passos no jornalismo. Hoje entendo o peso destas palavras e assino embaixo desta declaração de amor às avessas à tão propalada Cidade Sorriso.

Acabo de voltar de (mais) uma incursão noturna com meu querido amigo Ralf, outra tentativa infrutífera de encontrar um lugar para alguém com o nosso perfil, solteiros, acima dos trinta anos, ávidos por diversão e sem restrições ideológicas ou financeiras.

Discrentes do circuito de baladas do momento, fomos primeiramente ao bar La Lupe, onde um conhecido nos convidou para a sua festa de aniversário. Porém, ao chegarmos no local, não pudemos entrar ao verificarmos que o mesmo não aceitava cartões (hello! vamos nos modernizar?!).

O público em frente ao estabelecimento também não era dos mais amigáveis, portanto partimos para a segunda opção, o bar Blues Velvet, do outro lado da rua, aclamado por um popular site GLS como a atual "opção dos modernos e descolados curitibanos".

Qual a nossa surpresa ao adentrarmos o recinto e verificarmos que a faixa etária do público presente variava, no muito, entre 13 e 18 anos. Pedofilia perde. Apesar da boa seleção musical e do povo empolgado, a profunda sensação de abismo entre gerações gritou mais alto e resolvemos partir com nossas dignidades intactas. Era matar ou morrer (no caso, de vergonha, no dia seguinte).

E assim vamos vivendo na Curitiba idealizada por muitos, mas vivenciada plenamente e com felicidade por poucos. Continuo afirmando para quem é de fora (e me pergunta sobre a cidade) que esta é otima para se mudar e viver se você é casado e com filhos - não há lugar melhor para se criar uma família.

Mas se você é solteiro (e ainda por cima, adepto de alternative lifestyles), prepare-se para uma batalha árdua e solitária. Poucos são aqueles que conseguem prosperar no território amoroso com facilidade (e haja sorte!).