"Nas últimas semanas, muito se falou da tela azul da Record News, um fenômeno de audiência que tem marcado em média 0,5 pontos (cada ponto corresponde a 60 mil domicílios).
Como o sinal da emissora é gerado em Araraquara (interior paulista), ela não é obrigada a exibir o horário eleitoral gratuito da capital. No entanto, por ser aberta, não pode colocar nada no lugar.
Então veicula, duas vezes ao dia, por meia hora, um slide azul muito vivo e estático, avisando que se trata da faixa reservada à propaganda política. A cerúlea imagem tem angariado mais espectadores do que suas concorrentes no mesmo horário, e mais do que a própria emissora costuma obter com sua programação policromática.
A raiz desse fenômeno está no hábito de mudar de canal quando começa o horário eleitoral. Em busca de uma rota de fuga, quem não possui TV a cabo acaba sintonizando na tela azul, e por lá o aparelho permanece até que a programação volte ao normal.
É como um alarme da hora da novela. Tenho acompanhado as peripécias da efígie celeste com grande afinco, não por aversão à propaganda política, que é bem divertida, mas por ter plena convicção de que se trata de uma das coisas mais interessantes que a televisão apresentou nos últimos tempos.
A tela azul, por exemplo, não teria coragem de começar um telejornal com observações engraçadinhas e trocadilhos espirituosos sobre o trânsito da cidade. A tela azul não oferece reviravoltas inverossímeis ou atuações vergonhosas como nas novelas, tampouco exibe imagens do Pantanal mato-grossense em especiais sobre plantas que curam.
Naquele cárdeo retângulo, nenhum comentarista esportivo fala platitudes no show do intervalo nem há mulheres dançando em maiôs de zebra enquanto o auditório bate palmas. A tela azul não desbota nem cede ao dégradé só porque os níveis de audiência baixaram de repente.
A tela azul não tira a camisa nem conta piadas quando os produtores assim o determinam. Não dá prêmios aos primeiros que telefonarem e não tenta empurrar produtos de ginástica ou tônicos capilares aos espectadores, que tampouco precisam se submeter a sofríveis dicas de saúde e fofocas de celebridades."
Achei o texto bem humorado e pertinente para os dias de hoje. Entretanto, acho que a tela azul deveria ser aplicada também na TV a cabo ultimamente.
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